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quarta-feira, 19 de março de 2014

Os filhos que sumiram depois que foram retirados das mãos de guerrilheiros do Araguaia

Os filhos que sumiram depois que foram retirados das mãos de guerrilheiros do Araguaia

  • Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos entrega o resultado da contraprova do exame de DNA à família do guerrilheiro Antonio Theodoro de Castro
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CLEIDE CARVALHO(EMAIL·FACEBOOK·TWITTER)
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Algo em comum: Sandra Castri e Lia, possível filha de guerrilheiro
Foto: Album de família
Algo em comum: Sandra Castri e Lia, possível filha de guerrilheiro Album de família
SÃO PAULO — Lia Cecília da Silva Martins, de 39 anos, faz parte de mais uma história a ser desvendada sobre a Guerrilha do Araguaia: a dos filhos de guerrilheiros mortos pelo Exército. Na próxima terça-feira, a Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos entrega o resultado da contraprova do exame de DNA à família do guerrilheiro Antonio Theodoro de Castro, o Raul, desaparecido em 1973, que seria o pai de Lia.
Se o resultado for positivo — em 2010, exames deram 90% de compatibilidade genética —, será o primeiro documento oficial a derrubar a tese de que não passa de lenda a história de que crianças foram tiradas de seus pais e desapareceram.
— Mesmo dentro de uma guerra existe amor. E eu sou filha deste amor — diz Lia.
Mãe desconhecida
O parto teria sido feito pelo pai. Lia teria sido tirada dos braços da mãe, que foi executada. O soldado teria poupado o bebê. Entregue a um orfanato em Belém por um delegado e um soldado, a menina foi adotada. O mateiro José Maria Alves da Silva, o Zé Catingueiro, foi quem confirmou pela primeira vez a existência da filha do guerrilheiro Raul a uma das irmãs dele, Mercês Castro.
A contraprova do exame de DNA conta apenas metade da história de Lia. Falta saber quem é a mãe. Mercês descobriu que o irmão viveu no Araguaia com uma jovem que não falava português e não seria guerrilheira ou camponesa.
O GLOBO ouviu relatos sobre outros quatro filhos de guerrilheiros que teriam sido retirados dos pais, além de duas filhas de uma camponesa que se envolveu com o guerrilheiro Osvaldo Orlando da Costa, o Osvaldão. Apenas um deles teria sido entregue pela própria mãe a um padre.
Aos 77 anos, Zé Catingueiro disse ao GLOBO ter certeza da existência de mais uma menina, que teria, em 1974, entre 1 e 2 anos de idade.
— A mais branca era a mais nova. A outra era um pouco mais morena. A do Raul foi para São Geraldo (São Geraldo do Araguaia). A do Zé Carlos foi tirada para Marabá — diz Catingueiro.
Ele acrescenta que soube de outras duas ou três crianças “produzidas” por guerrilheiros do destacamento B, mas que não conheceu.
— Todas as crianças foram pegas vivas. Foram tiradas para outro lugar. Os grandes sempre deram graças a Deus de não terem matado nenhum inocente — conta, referindo-se aos comandantes das tropas.
Catingueiro acha difícil saber exatamente quantas eram e o que aconteceu com elas.
— Tinha soldado de quartel de todo o Brasil — resume.
“A do Zé Carlos”, como se refere Zé Catingueiro, seria uma filha de José Carlos, o codinome de André Grabois, fora do casamento. Ele foi casado com Criméia Almeida, com quem teve um filho, João Carlos Grabois. Ela acredita que a versão de Catingueiro serve apenas para criar mais tensão.
— É sempre assim. Quando dão alguma informação é para criar dúvidas, clima de tensão. Tive meu filho na prisão, e eles me ameaçavam, diziam que iam ficar com ele. Mas, mesmo se não acharem mais nenhuma criança, a Lia é uma prova de que elas existiram — diz Criméia.
Irmãos levados de Araguaina
Outro caso quem conta é Antônio Viana da Conceição, que tinha 6 anos quando sua mãe, Maria Vieira da Conceição, a Maria Castanhal, foi morta, e os irmãos levados de Araguaina — Ieda, a mais velha, o bebê Carlândia, de 6 meses, e Giovani, de 3 anos, este último apontado como filho do guerrilheiro Osvaldo Orlando Costa, o Osvaldão.
— Sumiu, sumiu. Acabou. Quem morreu, acabou — diz Antônio, que escapou de ser levado porque vendia macaúba na rodoviária da cidade.
A lenda dizia ainda que a guerrilheira Dinalva Teixeira, a Dina, havia sido morta grávida. Uma índia carajá, que acompanhava os guerrilheiros, relatou em 2009 a Mercês Castro que a criança era um menino e nasceu em Itupiranga, cerca de cinco meses antes da morte da mãe. Dina teria entregado o filho a um padre. O pai seria Gilberto Olímpio Maria, o Pedro, com quem Dina dividiu o comando do destacamento C. Os dois foram mortos em 1973.
Uma outra criança seria o filho do guerrilheiro Custódio Saraiva Neto, o Lauro. O bebê teria sido levado para Manaus. Não há detalhes sobre a mãe.
Giles Gomes, coordenador da Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos da Secretaria de Direitos Humanos, afirma que o único caso concreto de criança desaparecida durante a Guerrilha do Araguaia é o de Lia, que está sendo investigado:
— Não recebi nenhum outro pedido formal para investigar desaparecimento de crianças.
A Comissão Nacional da Verdade também informou que o caso de Lia é o único de criança desaparecida apurado formalmente.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/pais/os-filhos-que-sumiram-depois-que-foram-retirados-das-maos-de-guerrilheiros-do-araguaia-11891874#ixzz2wRjvHA5g 
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